Dia das mães e a romantização da maternidade
Culpa. Insegurança. Medo. Frustração.
Se você é mãe, sabe do que estamos falando.
Esses são alguns dos sentimentos que rodeiam seus pensamentos quando você não atende às expectativas direcionadas à figura materna. Como se não estivesse cumprindo seu "papel de mãe" corretamente.
Romantização da maternidade é a condição de reafirmação da identidade feminina e de realização pessoal plena que a mulher é submetida quando se torna mãe, assim como a naturalização de questões complexas. Apenas por ser mulher.
Essa culpa materna está diretamente associada a um modelo romantizado, visto como pronto e ideal de maternidade, que, na maioria das vezes, está distante da realidade diariamente vivenciada.
Raissa Viegas, analista financeira no BCOME, é mãe de Bernardo, de 5 anos, e de Helena, de 3 anos. Ela acredita que, quando se é mãe pela primeira vez, há muitas novidades que a romantização da maternidade naturaliza. "É muito complexo se tornar mãe, então é necessário um grande investimento. Do ser. Do tempo. De tudo. A romantização acaba diminuindo um pouco o tamanho dessa missão", conta.
Ser mãe é um grande privilégio, mas também é uma grande responsabilidade, principalmente se for sua primeira experiência. Afinal, tudo que é novo… assusta.
A culpa materna ainda se intensifica quando relacionamos maternidade e mercado de trabalho. Para as mulheres brancas, essa situação começou a ter relevância com a crescente independência feminina, a partir dos anos 60, quando elas lutaram pelo direito ao trabalho e à vida profissional.
No caso das mulheres negras, a situação foi - e ainda é - mais complicada e difícil: nunca houve a conceção do direito ao trabalho porque, devido ao processo histórico de escravidão, sua inserção foi impositiva e precária.
Para Raissa, ser mãe ativa no mercado de trabalho, ainda é um desafio. "A gente não tem consciência da sociedade como um todo e uma legislação que traga essa parte para gente conseguir se restaurar, para poder educar melhor e poder criar esse momento tão lindo", afirma.
E por mais que a cada ano as mulheres ocupem mais espaços, apenas 54,6% das mães entre 25 e 49 anos com filhos com até três anos de idade estão empregadas. Dentre as mulheres da mesma faixa-etária, mas que não possuem filhos, a taxa de ocupação é de 67,2%. Esses são os dados do estudo de Estatísticas de Gênero, que reforça a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho, realizado pelo IBGE em 2019.
Romantizar a maternidade, também, é contribuir com a culpabilização da mulher por dividir seu tempo com outros afazeres além de seu filho, como investir em sua carreira profissional.
É preciso estar atento a essas situações que podem desencadear doenças como ansiedade e depressão.
Que neste 8 de maio nossas mães sejam livres para sentir o que é ser mãe de verdade.
Por uma maternidade livre [e sem culpa!]
#mãesfreelas
Gabrieli Schlickmann é estagiária de Comunicação do BCOME e graduanda em Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).