bcome 10 de julho de 2020

Por que investir na presença de Mulheres na Economia Criativa?

Freelancer da economia criativa

A primeira vez em que ouvi falar sobre economia criativa foi há alguns anos, logo no início da faculdade. Levou um tempo até que eu, como estudante de jornalismo, entendesse que também fazia parte daquilo. Fiz inúmeras matérias sobre mulheres que se reinventaram e acreditaram nas suas ideias, porém, não havia me dado conta de que também era uma delas.

Mas, afinal, o que é essa tal Economia Criativa O senso comum nos revela a imagem da costureira, da artesã, da estilista, das artistas. Mas ela vai bem além e abarca simplesmente tudo que envolve diretamente a criação e a criatividade.

É impossível não assimilar essa prática com a presença feminina, afinal, as mulheres inventam e se reinventam há muitos anos nas áreas da criatividade, para empreender e conseguir uma renda extra para ajudar em casa. Quem não se lembra da avó costurando panos de prato para vender? Ou montando ornamentos de plantas para comprar um doce para os filhos, que o marido não deixava?

Mas com tudo isso, você me pergunta, por que investir em mulheres dentro da economia criativa, se elas já estão dentro desse universo?

A questão agora é que não basta entender a presença da mulher na economia criativa em áreas de necessidade, mas compreender que essa indústria possibilitou a mudança de vida de muitas delas que começaram a empreender com conhecimentos culturais e locais, como forma de resistência e que essas iniciativas precisam ser apoiadas.

Porém, mesmo que de certa forma sejam vistas como símbolo dessas atividades, se observarmos quantas delas estão ocupando posições de liderança nessas áreas, veremos que as mulheres ainda não são maioria.

Em 2019, o Meio & Mensagem divulgou a sua tradicional pesquisa que mede a presença de mulheres nas áreas de criação entre as 30 maiores agências de publicidade do Brasil. O resultado demonstrou que elas ocupam apenas 26% das áreas criativas nas agências, sendo considerados os cargos de vice-presidência, direção de criação, redação e direção de arte.

Dados como esse revelam como a assimilação da presença feminina ainda está associada às áreas da economia criativa socialmente desvalorizadas. Ou seja, no imaginário social, a criatividade é vista como um atributo essencialmente feminino, desde que não se trate de uma atividade profissional ou, sendo este o caso, que esta não seja socialmente reconhecida e devidamente remunerada.

Isso não quer dizer que as empresas e agências não estejam preocupadas em aumentar a mão de obra feminina nesses cargos, prova disso é o aumento da representatividade no universo da propaganda, por exemplo.

Não só pela crítica, mas também em função da presença de mulheres nas agências, as propagandas de cerveja e lingerie finalmente ganharam versões menos sexistas, valorizando não só a diversidade de gêneros, como a diversidade de corpos femininos e a sua aceitação como elas são, vide a transição dos anúncios da Calvin Klein, que bombou nas redes sociais nas últimas semanas.

Mesmo assim, para isso acontecer foi necessário um apelo enorme nas redes sociais e também o medo das marcas de serem vistas pelo público como instituições que reforçam estereótipos machistas na sociedade. A mudança acontece aos poucos, mas ainda revela uma resistência no mercado.

Afinal, quantas vezes você, mulher, em qualquer área da economia criativa foi menosprezada, interrompida ou sabotada por um homem que roubava suas ideias falando o que você havia acabado de explicar como algo que ele pensou, ou mesmo teve o seu sucesso creditado ao seu "toque feminino" ou à "sensibilidade da mulher", mas não à sua capacidade criativa?

A justificativa de que as mulheres ocupam menos cargos de liderança em relação aos homens por terem menos capacitação ou serem menos focadas não cola mais. De acordo com o IBGE, as mulheres estudam e se esforçam mais em suas carreiras, mesmo possuindo jornadas duplas e triplas de trabalho. Ou seja, mesmo cuidando dos filhos e da casa. Ainda assim, elas chegam a ganhar metade do que os homens ganham para exercer as mesmas funções.

O mercado de trabalho ainda é, majoritariamente, coordenado por homens, o que corrobora para a manutenção desse modelo e aumenta a dificuldade das mulheres ascenderem profissionalmente e assumirem posições de liderança, mesmo que elas já tenham se provado capazes disso.

E essa demanda não vem de hoje! Para conseguirmos o que temos atualmente, muitas mulheres tiveram que lutar antes de nós. Se você aprecia passar um tempo na Netflix, experimente assistir a série "Coisa Mais Linda", que retrata o Brasil na época da Bossa Nova e mostra como eram tratadas as mulheres que tentavam furar a bolha do preconceito e lutar por uma evolução social e uma posição de respeito.

A mulher negra, como sempre, forçada a trabalhar desde muito jovem para sustentar a si e à sua família, e a mulher branca privilegiada, que ao romper com o ideal do "casamento perfeito" para tentar investir no seu sonho é taxada de louca #Ficaadica.

O mercado e os consumidores já estão saturados das mesmas ideias. A diversidade e a pluralidade podem trazer uma força criativa inesgotável e juntos podemos criar e nos destacar ainda mais! Então eu refaço a pergunta, por que investir em mulheres na mercado criativo?

Parece lógico que depois de tudo o que foi dito diversas pessoas passarão a repensar como poderiam se reinventar nesse mundo de inovações e em como aumentar a presença das mulheres nas empresas, mas a verdade é que muitos ainda vão rebater com dados infundados e um discurso carregado de preconceito.

Mas uma mudança estrutural só será possível quando todos nos envolvermos nessa luta. Nas pequenas ações já somos capazes de contribuir porque a mudança não está no outro, ela está em você! Por exemplo, você conhece alguma mulher da economia criativa que está precisando de trabalho?

Apresenta o BCOME! Conhece alguma empresa que está disposta a aumentar o seu potencial criativo feminino? Indica o BCOME! Só assim nós conseguiremos acelerar essa mudança.

E se você se interessou pelo assunto, fica a dica também da leitura do especial sobre a presença das mulheres na Economia Criativa no portal NoBrasil.

Andressa Navarro Andressa Navarro é jornalista, redatora e assessora de imprensa. Defensora das causas feministas e da presença da mulher no mercado de trabalho, colabora para a rede e podcast Elas Programam e para o BCOME. Premiada pelo Prêmio Aberje de Comunicação Corporativa (2019) e contemplada com uma das bolsas do programa Microbolsas Mobilidade - Agência Pública, para produção de matéria investigativa (2020). Participou do Projeto ENTRE - Capacitação para Mulheres Criativas (2019), da Agência Publicis.

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